Difícil imaginarmos algo mais ancestral em nossas vidas que os desafios que enfrentamos diariamente. Poderia me arriscar e dizer que não houve sequer um único ser humano em toda a história que não tenha vivenciado problemas em sua existência. Talvez por isso, sejamos a espécie que está constantemente orientada a encontrar soluções, ou melhor, em busca constante de respostas. A questão então de ser bem ou mal sucedido nesta empreitada pode estar na forma com a qual empreendemos esta eterna busca.
Albert Einstein nos deixou uma bela dica que relembro aqui:
"Não é possível resolver os problemas que estamos lidando com o mesmo nível de consciência que o gerou"
Nos levando a reflexões profundas sobre a origem dos problemas, a qualidade da relação que estabelecemos com eles, além da compreensão de seu propósito.
Seriam os problemas que vivenciamos fruto de nossa própria ação no mundo?
A serviço de quê estão os problemas em nossas vidas?
Qual é o meu nível de consciência atual e o que preciso transformar internamente para experimentar novos resultados?
Nós da elos mobilizados por estas perguntas e inspirados por grandes pensadores como o filósofo Sócrates a partir de sua prática denominada Maiêutica, Rudolf Steiner fundador da Antroposofia a partir da descoberta dos três princípios constituintes da alma humana em pensar, sentir e querer ou agir, Otto Scharmer por meio da Teoria U e Alexander Bos por meio do conceito da Formação Dinâmica de Juízo desenvolvemos uma tecnologia social para resolução de problemas, que será apresentada aqui em primeira mão.
Mas antes de seguirmos com o método e a ferramenta é importante ressaltar alguns elementos chave que, nosso ponto de vista, são essenciais para lidarmos de forma profunda e efetiva com nossos problemas e questões internas.
1. Confiança em si mesmo e no outro
Em nossas relações pessoais e profissionais estamos a todo momento em contextos de interdependência, pois enquanto estou em meu trabalho alguém está preparando meu almoço, outro educando meu filho, outro ainda estará disponível para me transportar no final do dia e assim, numa cadeia infinita de fraternidade estamos sempre à serviço do outro. Como seria neste contexto sustentar relações com baixo nível de confiança? Por isto, se faz tão necessário desenvolvermos em nós primeiramente a confiança em si e consequentemente a confiança no outro.
2. Atenção plena
O Mindfulness como disseminado por Jon Kabat-Zinn para além de benefícios fisiológicos e redução de estresse se coloca como uma ferramenta poderosa de ampliação da consciência sobre si mesmo, suas emoções e sentimentos e como você esta interagindo com todo este universo interior, mas também como poderia vir a lidar com isto de forma mais madura e profunda. Nas relações que estabelece, quando há realmente qualidade de presença, há interesse no que vem do outro, se revelando como um lindo ato de amor e isso pode ser transformador tanto para quem recebe, quanto para quem se doa.
3. Não julgamento
O julgamento pode estar relacionado tanto com um aspecto cultural do contexto social que vive, como também em crenças e padrões de comportamento desenvolvido por você ao longo de sua vida. Seja nas brincadeiras de crianças que de alguma maneira nossa sociedade ainda insiste em classificar como "de menino" ou "de menina", seja nos preconceitos de toda natureza (gênero, cor, raça, religião, etc) estamos a todo momento tomando alguma decisão ou orientando nossa capacidade de compreensão dos fatos a partir destes filtros internos. O pedido aqui é que você tente, ao máximo, abdicar-se destes filtros, abrindo-se genuinamente para o que pode vir do outro em sua essência e não uma imagem daquilo quem você muitas vezes projeta no outro.
4. Vulnerabilidades
Colocar-se em estado de vulnerabilidade é última instância aceitar-se como um ser humano, é ter a capacidade de aceitar de forma integral quem você verdadeiramente é, com toda sua beleza e qualidades, mas também com suas sombras e defeitos. Para que possam ter encontros verdadeiros é necessário dar espaço para quem você pode vir a ser e isto somente é possível se iniciar aceitando-se e reconhecendo-se falível, incompleto, errante, humano.
Portanto, caros amigos, com o esforço em exercitar todas estas qualidades, lhes convidamos para experimentarem, necessariamente com outro ser humano, esta ferramenta que acabamos de lançar e cujo roteiro apresentamos a seguir:
Roteiro para uso da ferramenta
1. Formar pares. Um terá o papel de narrador e o outro de ouvinte. Assumir o papel de ouvinte significa assumir uma posição de presença genuína no processo;
2. O narrador elege um desafio/problema que está diretamente envolvido e que lhe gera algum incômodo;
3. Conte a seu par o desafio/problema, bem como seu incômodo. Seu par deve escutar atenta e profundamente, espelhando exatamente o que ouviu sem interpretações ou julgamentos. Também não é o momento de dar conselhos. Espelhar significa falar com suas palavras exatamente o que foi dito, sem interferir na mensagem original;
4. Ambos ficam em silêncio por 1 min e o narrador faz uma reflexão interna buscando identificar uma limitação, crença ou padrão seu, ainda não transformado que pode ter relação com o seu incômodo/problema;
5. Descreva a seu par que limitação é esta. Em que situações você se vê vivenciando-a, o que sente e como age nestes momentos. Traga o máximo de detalhes sobre ela;
6. Novamente seu par escuta atentamente sem julgamentos ou interpretações e reflete exatamente aquilo que ouviu;
7. O narrador faz um desenho que deve representar o estado atual da relação entre os dois problema e o seu desafio pessoal e posteriormente um novo desenho desta relação em seu estado futuro;
8. O narrador descreve o cenário atual e futuro. O ouvinte pode fazer perguntas de entendimento e na sequência fazer um espelhamento sem julgamentos ou interpretações;
9. Todos ficam em silêncio por 1 min. e o narrador a partir das imagens e desafio individual elabora uma pergunta de desenvolvimento para si mesmo. Não utilize “Por quê”, mas sim “O Quê”, “Como”, “Qual”, por exemplo, se meu desafio é não confiar nas pessoas, uma pergunta poderia ser: “Como posso desenvolver a confiança nas pessoas?” ou “O que me impede de confiar nas pessoas?” Cuide para que a pergunta se relacione com você e não com o outro ou com algo externo a você;
10. Conte a seu par a pergunta e ele anota sem comentários;
11. Repete-se os passos de 3 a 11 invertendo os papéis;
12. Ao final cada um elabora um conselho para o seu par e o transmite, além de registrar as novas ideias que surgiram com a dinâmica;
Espero que esta ferramenta possa trazer cada vez mais profundidade e compreensão da relação que estabelecem com os problemas que vivenciam, permitindo assim conectarem-se consigo mesmos a partir de uma visão concreta de si mesmo transformado no futuro, mais maduro e consciente sobre sua própria essência.
Seria incrível poder receber o retorno de todos que experienciarem esta ferramenta em suas vidas e organizações.
Abraços!
Vinícius Capillé
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